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LM, fast foodie

Pasta-expert *** Master na arrumação da caixa de sushi *** Doutoramento na cozinha do desenrrascanço *** Veggie Friendly *** Viciada em comer-fora e arruinar carteiras

23
Out20

Roteiro Gastronómico nos Açores (São Miguel e Terceira)

LM

Para quem acompanha o meu Instagram, deve ter notado que fomos abençoados com uns dias de férias pelos Açores. Long story short, éramos para ter ido em Março, o Covid lixou tudo e, ia lixando tudo outra vez, mas acabámos por ter sorte aqui no meio antes de começar esta segunda fase.

Depois de dois testes negativos ao covid, lá fomos nós para a Terceira... À última hora mudaram-nos os voos com mega bónus: um dia inteiro em São Miguel com carro incluído! Uhhhh huuuuuuu!

 

Primeiro dia em São Miguel

Depois de corrermos os primeiros spots turísticos (lagoas, laguinhos e laguetas absurdamente lindos), as furnas deixaram-nos com uma fome do demónio por experimentar o clássico cozido, feito ali no meio daquele cheiro a peido (lamento, mas é mesmo a PEIDO).

Já várias pessoas tinham descrito o cozido e era sempre de uma destas duas formas: ou era nojento, ou era divinal.

Nós queríamos arriscar, então fomos por um dos restaurantes recomendados dentro do divinal (pois claro!)... Nada mais nada menos que no parque de campismo das Furnas (Restaurante Vale das Furnas).

 

Como somos lindos não fizemos reserva, mas pelos vistos é aconselhável, porque é raro haver disponível assim à maluca. Tivemos muita sorte e lá nos serviram. 

 

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Palavras de meu esposo: "Eu não posso dizer isto à minha mãe, mas este é o melhor cozido que comi na minha vida!"

Eu concordo com ele, é melhor não dizer. E não é que aquele cozido de peidinho era divinal? As couves desfaziam-se de tão tenras que estavam... As carnes, nem precisavam de faca. Os enchidos... Oh meu Deus os enchidos!!! Ao início resmunguei que não tinha farinheira (o meu enchido favorito) mas acreditem, não fez falta nenhuma ao lado daqueles chouriços e morcelas demoníacas de tão boas que eram. Quando voltarmos lá, que vamos voltar, prometemos reservar antes!

 

2º ao 4º dia, já na Ilha Terceira:

A Terceira é linda. Tudo é lindo, não há comparação entre ilhas. 

 

Apesar de não ser um restaurante, tenho de recomendar uma paragem na queijaria Vaquinha. Ofereceram-nos um pratinho com todos os queijos lá produzidos: tradicional, picante, o "ilha Terceira" e o "tipo Ilha". Claro que saímos de lá com queijo suficiente para sermos parados no aeroporto por excesso de peso (ou mesmo por tráfico)...

Não me consigo recordar dos preços, mas por 17€ trouxemos 5 pedaços grandinhos do "ilha" que era o mais curado, os outros ainda ficavam mais em conta!

 

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Um dos restaurantes que nos recomendaram mais vezes nesta ilha foi o Ti Choa. Quando lá fomos, ao final de um dia de passeio, não tínhamos reserva e fomos recambiados dali para fora. Estava totalmente lotado (o espaço não é grande) e nós pensámos que isso não aconteceria numa aldeia "longe" da cidade. Burros!

Claro que voltámos no dia seguinte, porque tinha de valer a pena um sítio tão bem falado e ainda por cima, era provavelmente ao mesmo tempo o local mais remoto e com maior acumulação de gente na ilha.

 

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Já com reserva feita, ao final do dia, lá chegámos depois de uma bica na associação do lado. Seguimos a recomendação do staff em pedir uma degustação, composta por várias iguarias tradicionais da ilha. Como segundo prato, pedimos uma costeleta de vaca.

 

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Tudo estava divinal, a sensação que dá é que estamos na cozinha da nossa avó Terceirense a comer aqueles pratos mesmo clássicos que ela cozinhou a vida inteira. Muito genuínos, muito saborosos.

O doce de vinagre é um must have! E o xiripiti no final (licor de Nêveda), também!

 

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O que mais gostámos aqui, não desfazendo a comida, foi o atendimento. Estávamos em casa, conhecemos melhor os empregados, conversámos sobre de tudo um pouco, deram nos dicas da ilha, rimos muito... saímos de lá felizes e com a certeza que queremos lá voltar. O preço? 38€ pelos dois, com bebidas, sobremesas e cafés. Inacreditável!

 

 

No dia anterior a este jantar que acabei de vos descrever, tivemos de trocar as voltas (depois de batermos com o nariz no "não temos reserva"), acabámos então por antecipar a visita à outra recomendação que tinhamos na manga: o Caneta.

Lá fomos até ao restaurante (tudo ali é perto, tendo em conta que se dá a volta à ilha em 90km), onde nos esperava uma sala imensa e super imponente, totalmente o oposto do primeiro espaço. Uma garrafeira muito bem composta, uma sala que mais parecia feita para casamentos e batizados.

 

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Há sempre a opção de ir ao bar, fica por baixo do restaurante, onde servem refeições mais leves, mas nós queríamos mesmo refeições "à séria".

Lá depois de muita ponderação nas entradas porque o principal já estava decidido, convenci o esposo a pedir um carpaccio MARAVILHOSO de carne Angus maturada, também um queijo fresco e salsichas caseiras (esqueçam lá o nome salsicha, nada a ver, para mim é mais parecido com um chouriço pequenino delicioso).

 

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É de salientar que me recomendaram este espaço porque a carne servida é de criação própria da casa, e isso notou-se logo.

Para prato principal, já rotulado como o melhor da ilha: Alcatra Tradicional.

O alguidar de barro (e não pote de ferro, como inicialmente escrevi porque sou burra) onde são cozinhados pequenos pedaços de Alcatra, acompanhado com um pão doce também tradicional.

 

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Devo confessar que não foi um prato que me deixasse em modo "uau". A carne desfazia-se, o molho era óptimo ao estilo de ensopado... Mas acho que tem a ver com o meu gosto pessoal, prefiro a carnicha grelhada e mal passada. Da próxima, porque sim, vale mesmo a pena a próxima, peço um belo bife à regional e aposto que saio de lá a chorar de felicidade, porque a qualidade da carne, é das melhores que já comi.

O doce que pedimos, não é de todo a minha praia: um pudim de queijo da ilha com ananás caramelizado. Acho que esta noite não correu tão bem porque arrisquei muito no "quero comer o tradicional" ao invés de seguir o meu gosto. Mas não me arrependo nem um segundo!

 

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A refeição ficou por cerca de 44€ pelos dois, valeu a pena. Um carpaccio semelhante em Lisboa era mais caro que este jantar todo!

 

 

No último dia, ficámos pelo centro de Angra do Heroísmo, onde estávamos hospedados. Fomos ao restaurante que me chamou a atenção logo no primeiro dia: a Tasca das Tias.

O espaço é muito mais moderno, super bem decorado... Uma garrafeira invejável e um ambiente agradável com jazz de fundo.

 

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Pedimos um bife de atum braseado e um filet mignon, escolhendo assim dois pratos com produtos locais. Primeiro veio o atum, estupidamente no ponto e sem dúvida, o melhor bife de atum que comi na vida. As batatas doces passadas em manteiga - perfeitas! - acompanhadas com uma salada deliciosa e saborosa, a equilibrar o "pesado" do restante prato.

 

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Depois vem o filet mignon, já com dificuldade em achar que algo vai superar o atum... E empata. Eu não consigo descrever de outra forma: uma carne tenra, com sabor, perfeita. Cozinhada no ponto perfeito, acompanhada com as batatas "à tias" (fritas mas depois salteadas em manteiga açoreana com cebola) que me levaram ao céu.

 

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Eu escrevo isto com o maior gosto e lembrança deste jantar. Há poucos sítios em Lisboa onde possa comer tão bem sem sair de lá em falência financeira.

Quase que me esquecia das sobremesas! Comemos um clássico Dona Amélia, bolo (à base de farinha de milho e especiarias) muito típico da ilha e ainda um leite creme (só porque sim).

 

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Este, foi sem dúvida um dos melhores jantares da minha vida. Não, não é das férias. É da VIDA. Tudo, mas tudo estava perfeito. Não há um "a batata estava mais ou menos" ou podia ter menos sal. Era tudo tudo tudo perfeito. E o mais incrível, é que não foi caro. Pagámos 55€ pelos pratos mais bebidas, sobremesas e cafés. Não é um tasco, é comida a sério!

 

Se há recomendação que vos deixo, é irem a todos. Se puderem ir só a um na Terceira, esta tasca arrebatou o meu coração (ou melhor, o meu estômago). 

 

 

No último dia, tivemos tempo de almoçar em Ponta Delgada depois de uma visita rápida à cidade, na ilha de São Miguel.

Fomos até ao Restaurante Casa de Pasto o Avião, decorado com azulejos dos aviões da SATA nas paredes. Um espaço mais clássico, modesto, cheio de adolescentes saídos da escola ao lado.

Pedimos dois bifes à regional, o meu pai não me perdoaria se falhasse esta iguaria das ilhas. Parece um mero bitoque, mas não. É um bife bem condimentado, penso que com pimentão vermelho mas sem certezas de que truque ali se pratica, a carne (lá estou eu em modo disco riscado) era tão, mas tão tenro, que se desfazia na boca. O bife é cozinhado em Manteiga dos Açores, o que lhe confere um sabor ainda melhor. Eu quero voltar para a ilha! 

 

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Espero vos ter deixado umas boas dicas gastronómicas para as vossas futuras visitas aos Açores. Que também espero que sejam em breve, será muito bom sinal para todos.

Nós estamos rendidos às ilhas, queremos voltar e conhecer as outras... Não só pela beleza natural mas também porque foi, sem dúvida, da melhor comidinha que já passou nestes estreitos.

Uma das formas que descrevi aos amigos e família a qualidade de tudo o que comemos foi: "entres tu num restaurante ou num tasco, pedes um bife e vai ser o melhor bife do mundo."

Nos Açores, conseguimos ter a prova mais viva do mundo que a forma como tratamos os animais influência em pleno a qualidade do produto: seja ele carne ou derivados. É uma diferença escandalosa! Os animais vivem livres, felizes (como dizem os anúncios), com muito espaço e em comunhão com a natureza. 

 

Fico por aqui, também houve muito petisco pelo meio mas não quero tornar este post demasiado enfadonho e gigantesco. 

Se tiverem sugestões de restaurantes para conhecermos nas próximas ilhas, deixem por favor a vossa dica nos comentários

 

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