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LM, fast foodie

Pasta-expert *** Master na arrumação da caixa de sushi *** Doutoramento na cozinha do desenrrascanço *** Veggie Friendly *** Viciada em comer-fora e arruinar carteiras

28
Out16

Desabafo de uma aspirante a astronauta

LM
Engraçado chegar a esta idade - engraçado o car@€&# - e não saber se vou ser astronauta ou enfermeira. Falo como se tivesse 80 anos, mas não me venham com merdas como se ainda fosse nova para tirar 4 licenciaturas diferentes e experimentar mais de 30 empregos até encontrar o tal.

Não gosto muito de comentar assuntos popularuchos, mas aquela miúda que escreveu uma carta ao PR a queixar-se de não ter entrado em Medicina por duas décimas lembrou-me...

No 12•ano, ainda não sabia eu o que era o urban à noite - inocente, portanto - decidi concorrer para Biologia. E quando digo Biologia, foi essa a minha única escolha no ingresso... apesar de haver espaço para escolher outros tantos cursos. Eu tinha tanta certeza que era aquilo que queria ser, que dediquei toda a minha média de merda àquele curso tão desejado para seguir investigação em genética, a minha grande paixão. Aiiiiiiiii era tão linda...

Não entrei. E não foi por duas décimas. Foi por 3 centésimas.

Fiquei portanto num segundo décimo segundo ano a fazer melhoria a matemática. Este ano resume-se a almoços com vinho tinto e ginásio com uma grande amiga a acompanhar-me em semelhante desgraça. Acho que foi dos melhores anos que tive.

Quando volto a fazer exames, volto à carga no ingresso para a universidade... mas desta vez já devia ter ido ao Urban e coloquei 10 escolhas como manda o bom senso. (Peço desculpa, mas bom senso e urban não conjugam mesmo nada). Eis que entro na minha segunda escolha, mais uma vez lixada pelas centésimas, em Medicina Nuclear. Vou parar à ESTESL, vivo o melhor ano universitário da minha vida e curto à brava noites em branco a fazer trabalhos de Química Aplicada. Volto a tirar de bom duas ou três pessoas desta experiência, mais algumas histórias engraçadas para os netos. Claro que cheguei ao final do primeiro ano a ter a certeza de que não era aquilo que queria para a minha vida.

Passo os próximos anos a experimentar trabalhos, a procurar algo que me motive: restauração, data entry operator, call center, assistente administrativa, hospedeira e promotora de eventos (os melhores anos, sem dúvida!)... costumava dizer que estava farta de vender o meu corpo e com os quilinhos a começar a pesar, aquilo não ia durar muito mais tempo!

Os anos passam passam passam... fico mais baralhada. Gosto de tudo e não gosto de nada. Não sou a melhor em nada, não sou a pior em nada. Sou boa a fazer um pouco de tudo. Sou portuguesa, desenrascada como a merda.

Chego à conclusão que não tenho remédio. Decidi que o melhor era escolher o curso mais geral e abrangente que existisse: Gestão. O que é que um gestor faz? Tudo.

Claro que com a independência que fui ganhando isto só faria sentido a trabalhar para ganhar currículo ao mesmo tempo que avanço nos estudos. É aí que entro na área da Banca. São dois primeiros anos felizes, são outros dois de horror. A parte mais gira é que fui feliz num call center, onde no último ano fazia quase 8 horas por dia a ligar a clientes... dizem que é um horror, que são escravos nestes trabalhos precários... mentira! Horror é entrar num balcão de um banco "a sério" que passado um mês deixa de ser sério e passa a ser mau, e ainda depois de levar com isto tudo ouvir todos os dias que não vou sair da cepa torta e ficar agarrada a uma secretária até aos 80 anos (tinha colegas mais velhas). Mais uma vez, só tirei de positivo as pessoas que conheci lá e a estaleca que a experiência me deu... "sabe lidar com situações de pressão?" MESTRE!!! 

Hoje não sei o que quero. Porque aquilo que sei que quero neste momento não me parece que exista. Porque deixei de acreditar que em Portugal temos quem acredite em nós e nas nossas capacidades. Porque deixei de acreditar que vou ser bem tratada num próximo trabalho. Porque em Portugal, os médicos recebem uma miséria e nós achamos que eles é que tão à grande.

Eu sei que costumo ter mais piada no que escrevo. Mas isto não tem piada nenhuma.

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