Domingo em Setúbal - Brunch e praia
Já andávamos há algum tempo a pensar neste plano: agarrar na mota, atravessar a ponte (que para um margem-nortiano é algo sempre complexo) e ir descobrir as maravilhas do outro lado da margem.
Para mim, algumas das melhores praias de Portugal estão na Arrábida. E olha que fui nascida e criada à beira mar! Mas quero eu enganar quem? Aquela água ao estilo Caraíbas, envoltas por uma serra intocada, onde o contacto com a natureza é pleno... Não levamos com vento nem nuvens, sempre uma boa aposta de bom tempo. Único senão é o estacionamento, mas com uma mota estamos sempre safos!
O plano era mesmo este: ir experimentar finalmente o famoso Brunch do Chef Óscar Cabral no Hotel do Sado e depois ir a uma das praias da Arrábida (mergulhar ou talvez dormir uma bela sesta). Dois em um perfeito!
Claro que nos metemos em menos de uma hora no destino... Nós margem-nortianos achamos sempre que Setúbal é super longe, somos só parvos. Já conhecia o hotel porque o ano passado os meus queridos progenitores decidiram passar lá um fim de semana e fomos lá beber um copo com eles no bar.
É um 4 estrelas que foi remodelado há relativamente pouco tempo, que prima por ter mantido alguns traços e peças do edifício original do século XVIII e ficou com aquele mix de clássico, imponente, mas com conforto moderno. O ex-líbris do hotel, para mim, é a esplanada onde servem refeições, que também serve como bar e, agradavelmente, era também o sítio para onde nos dirigíamos.
UAU, a vista é fantástica sobre toda a baía de Setúbal, a língua de Tróia mesmo do outro lado, onde podemos ir apreciando os barcos a fazer a travessia para aquelas praias tão desejadas.
Nestes dias de calor, não há nada melhor do que estar sentado à sombra, numa bela mesa com vista infinita e com um copo de espumante na mão. Fácil!
O brunch começa, a fome aperta, os olhos regalam-se... Primeiras coisas a virem para a mesa:
- Uma tábua de enchidos e queijos para todos os gostos, desde o Roquefort ao Brie, presunto à mortadela, compota com queijo e eu já estou feliz.
- Uma cesta de pães, todos confeccionados no próprio hotel, com pão de fermentação lenta e uma filha-da-mãezinha de uma focaccia com queijo de Azeitão que ainda hoje sonho com ela.
- Um prato de doces com torta de Azeitão (que morri de felicidade), uns mini pastéis de nata e croissants crocantes.
LM, esperta e linda, disse logo ao esposo que não ia comer mais pão para conseguir provar tudo... (mas ainda tentando manobras de diversão para lhe roubar a focaccia, claro). Mas aquelas duas manteigas artesanais: uma de ovelha e outra com pimentos... Obrigaram-me a provar mais pão do que devia, e ainda bem, que o pão de fermentação lenta era delicioso.
Após as "entradas", vem então o primeiro momento "tchanan" do brunch (sem desconsiderar a maravilha anterior ok?): Ostras fresquissimas do Sado, um limão para espremer em cima e um gaspacho de melancia. Um prato tão simples, tão fresco mas com tanto detalhe. As ostras tinham sido colhidas naquela noite, sabiam a mar, imaginem...
O segundo momento foi um misto de surpresa com estranheza, se posso dizer assim! O prato assemelha-se a uma pintura abstracta, com umas pinceladas de tinta preta e uma pequena bola saliente a sair dali do meio. Essa bola, um croquete de choco (a fazer juz à terra onde são tão conhecidos por serem fritos) mas aqui não só numa forma diferente como num aspeto totalmente inesperado. O toque do chouriço neste croquete tornou o prato bem mais equilibrado, com aquele molho preto de limão (a substituir a necessidade corriqueira de espremer do sumo por cima do choco). Delicioso! (Alerta boca preta da tinta de choco, ainda nos rimos um bom bocado. Sim, somos imaturos...)
De seguida, uma açorda de ovas com ovo a baixa temperatura. O ovo ao ser cozinhado assim, confere um sabor e textura diferente comparado a uma açorda tradicional. As algas halófitas (tive de ir consultar o menu) que, ao serem misturadas, tornam o prato ligeiramente mais salgado, sem o ser em demasia.
Mais um momento, um dos que mais gostei (prato que o meu querido Triptofano sugeriu, e muito bem, para a carta!): Uma sopa fria de morangos com pimentas verde, manjericão e sour cream. Opa... Eu adorei esta pré sobremesa. Talvez porque adore morangos, ao misturar com as natas ficava quase um creme de morango delicioso e a pimenta a dar aquele toque meio salgado, meio picante... Só de lembrar, tenho vontade de voltar por ele.
Para concluir todos estes fantásticos momentos: um vulcão de chocolate acompanhado de gelado de couve-flor, gel de Lima e maracujá. O gelado estava incrível, algo que nunca tinha provado e combinava na perfeição com o chocolate. Consistência perfeita, sem demasiado açúcar e mistura de sabores incrível. Ora com um, ora com outro...
Quando achávamos que não havia mais surpresas, porque sim, todo este brunch foi marcado por momentos surpreendentes, a carta até parecia ficar por ali... A sobremesa é o suposto final! Mas não, aparece então um carrinho ao nosso lado cheio de potes com ervas para fazer infusões no momento, cortadas à nossa frente e maceradas... Frio ou quente? Tanto faz! O cheiro era incrível! Pedi uma mistura de todas as ervas, ao gosto do "erva-man" (badumtsssssss) e bebi, com esperança que me ajudasse na digestão mais feliz que tive nos últimos tempos.
Todos os detalhes são importantes, mas aqui... Não é só um brunch, é pensado, é cuidado ao pormenor. É o Chef Óscar a fazer erguer uma simples refeição de malta que não gosta de acordar cedo ao fim de semana, num momento memorável. O preço é surpreendente: 23,90€ por pessoa, 4,90€ para crianças e ainda há a opção ovo-lacto-vegetariana! É preciso marcação prévia pois o Brunch só acontece aos Domingos das 12h às 15h.
É um espaço incrível com uma vista ainda mais incrível. E poder nesta altura, quando todos vivemos momentos de incerteza e de algum receio, dizer que tive uma refeição que para além de me ter deixado satisfeita, me deixou incrivelmente feliz e agradecida por poder viver estes momentos.
E claro, acabámos na praia dos Caeiros na Arrábida, não deu para dormir mas deu para uns bons dois ou três mergulhos! E rebolar na areia, que nem uns croquetinhos de choco!
Um obrigada a toda a equipa do hotel e ao Chef Óscar, foi fantástico!
Um obrigada à Zomato, por continuarem a confiar os vossos convites em pessoas (loucas, como eu) viciadas em viver estas experiências gastronómicas!